Cheira bem: a café fresco, ou antes, a café misturado com o cheiro das violetas que o pequeno vendedor pusera em cima da minha mesa, insistindo para que lhe comprasse um ramo. A quem o daria? Disse-lhe isto mesmo: que vivia no Porto como quem vive na ilha do Corvo, não tinha ninguém a quem dar uma flor. O rapazito, com olhos escuros de potro manso, percebendo que a minha recusa era débil, não arredava pé. Acabei por comprar-lhe as violetas e oferecê-las à lua, acabada de surgir no canto da praça, branca, redonda, carnuda, que, apesar de puta velha, ao aceitá-las, se pôs da cor das cerejas.
Eugénio de Andrade
Eugénio de Andrade
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