sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Como água para chocolate



Neste romance surpreendente e admirável, que revela ao leitor português uma grande escritora mexicana, toda a trama narrativa roda em torno da cozinha e de um certo número de elementos culinários. Cada capítulo abre com uma receita fora do comum (mas ao mesmo tempo perfeitamente realizável), a pretexto de em volta da qual não apenas se juntam os comensais mas também se “cozem” e “temperam” amores e desamores, risos e prantos, e se celebra o triunfo da alegria e da vida, sobre a tristeza e a morte. Através dos amores proibidos de Tita e Pedro, a autora retrata-nos o México rural dos princípios do século XX e tece um hino inesquecível ao prazer dos sentidos e à liberdade criativa da mulher.

“Tita apertava as rosas com tal força contra o peito que, quando chegou à cozinha, as rosas que inicialmente tinham uma cor rosada, já se tinham tornado vermelhas por causa do sangue das mãos e do peito de Tita. Tinha de pensar rapidamente no que fazer com elas. Estavam tão lindas! Era impossível deita-las para o lixo, primeiro porque antes nunca tinha recebido flores e depois porque tinham sido dadas por Pedro.(…) Foi uma grande tragédia, mas é claro não tão grande como a que surgiu no rancho nesse dia. A fusão do sangue de Tita com as pétalas das rosas que Pedro lhe tinha oferecido acabou por ser a coisa mais explosiva.
Quando se sentaram à mesa havia um ambiente ligeiramente tenso, mas não aconteceu nada de maior até serem servidas as codornizes com pétalas de rosas. Pedro não contente por ter provocado os ciúmes da sua esposa, ao saborear a primeira dentada do prato especial, exclamou, fechando os olhos com verdadeira luxúria.
― Isto é mesmo um prazer dos deuses!
A mamã Elena, embora reconhecesse que se tratava de uma comida verdadeiramente refinada, incomodada com o comentário, disse:
― Tem demasiado sal.
Rosaura , a esposa de Pedro, dando como pretexto náuseas e tonturas, não conseguiu comer mais de três pedaços. Em contrapartida aconteceu qualquer coisa a Gertrudis.
Parecia que o alimento que estava a ingerir produzia nela um efeito afrodisíaco pois começou a sentir que um intenso calor lhe invadia as pernas. Umas cócegas no centro do corpo não a deixavam estar correctamente sentada na cadeira. Começou a suar e a imaginar o que é que se sentiria ao ir sentada no lombo de um cavalo, abraçada por um villista, um daqueles que tinha visto na semana anterior a entrar na vila.”

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