quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sente-se vir o Outono...

O incêndio do sol-pôr exala um fumo roxo
Que às coisas vela a face...
A macerada flor da solidão renasce;
O seu perfume é fria e branda mágoa,
Bruma que já foi água...
Todo sombra e luar esvoaça o mocho;
Uma nuvem enorme, ao longe, no poente
Desvenda o coração que se deslumbra
E abrasa intimamente...
O silêncio a crescer, é onda que se espalha...
Sente-se vir o Outono; é já noitinha, orvalha...
Nos ermos pinheirais gemem as noitibós
E vultos de mulher, sumidos na penumbra,
Passam cantando, além, com lágrimas na voz...

Teixeira de Pascoaes


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