segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Último dia de Verão


Talvez nem seja um tordo. Um pássaro
cantava. Seria o último
desse verão. A própria luz

não ajudava: não era barco
de manhã nem brisa ao fim da tarde.
Talvez o anjo do poema

pudesse em seu lugar subir aos ramos
e cantar. Mas os anjos
são tão distraídos! Deles não há

nada a esperar, a não ser fogo
de palha. Talvez nem seja um tordo.
O seu canto, só vibração do ar.

Eugénio de Andrade

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